As duas primeiras partes ou seções d?O Capital de Karl Marx mantêm forte integração temática e são cruciais para a compreensão do restante da obra. O próprio Marx reconhecia nestes capítulos iniciais uma dificuldade maior, notadamente no primeiro, daí sua obstinação em reescrevê-los nas edições que acompanhou, mesmo tendo ante si a ingente tarefa de escrever o restante da obra. A trama conceitual, que se inicia com a crítica da riqueza capitalista, passando pelo exame da tríade fetichóide (mercadoria, dinheiro e capital), modos de manifestação da forma valor, desemboca no enunciado da fórmula geral do capital (D-M-D?) e na elucidação do mistério do ?D (dinheiro incrementado), abrindo caminho para a denúncia da expropriação de valor acobertada pela relação de compra e venda da mercadoria força de trabalho, que se desenvolve ao longo das terceira, quarta e quinta partes, ou seções, com o exame das formas do mais-valor (ou mais-valia como preferem alguns). A elucidação da estrutura argumentativa e da trama conceitual destas primeiras partes é conditio sine qua non para uma adequada interpretação do conjunto da obra. E mais, para a abordagem consistente de todo o grandioso Projeto de Crítica da Economia Política, iniciado no exílio parisiense em 1844 e deixado inconcluso com a morte do autor em 1883. Destarte, com este desvendamento, possibilitado pelo exame acurado, das duas primeiras partes ou seções estariam sentadas as bases para uma eventual continuidade de seu tratamento em semestres subseqüentes, compreendendo-se, em conjunto, se possível e desejável, a totalidade do Livro I ou, pelo menos, até as partes ou seções onde são tratadas as formas da mais-valia, vale dizer, até a quinta parte, ou seção.
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